É que eu ainda me sinto uma criança. O mesmo moleque que corria com uma bicicleta vermelha pra lá e pra cá - bicicleta que foi ganha em um dia das crianças, nunca vou me esquecer dela, foi minha melhor amiga, e também nunca vou esquecer daquele cheiro de borracha e óleo que ela exalava quando andei nela pelas primeiras vezes - o mesmo garoto que passava o dia brincando de carrinho na terra, ou então num terreno baldio, ou com o meu cachorro, eu sempre estava brincando, sozinho, é claro. Eu era um garoto sozinho, não gostava daqueles outros garotos com os quais eu podia brincar, eram mais velhos, e chatos, e não me davam muita atenção, então me acostumei a brincar sozinho, ou quase - sempre tive minha bicicleta e meu cachorro .
Não me sinto diferente de nenhuma forma, sou exatamente igual. Talvez mais alto, e com uma voz esquisita que não é minha, mas ainda assim, o mesmo garoto que brincava de lutinha com o vento, armado com um cabo de vassoura. E eu gosto de ser aquele garoto, com a mesma inocência, e tentando manter o mesmo jeito espontâneo de sempre. Aquela mesma afeição pelo mundo que eu tinha antes, eu ainda tento manter, mesmo que escondido em algum lugar dentro de mim, eu ainda gosto de ser aquele moleque sujo de terra . Mas eles não querem deixar eu ser esse garoto, dizem que não me pertence mais o mundo da infância, falam que agora tenho de me corromper, tenho que fazer parte do joguinho deles, ser um cara cinza no meio de uma cidade desbotada e suja, ser uma máquina, um robô, que vive na mesma vida pra sempre, que morre e ninguém sente falta. Mas não, eu não vou sucumbir, não vou deixar esse moleque morrer, não vou viver na merda que nem eles. Eu vou deixar essa criança em mim viva até o dia em que eu morrer.
Naquela época eu bem me lembro que eu era feliz. Talvez fosse feliz exatamente por ser uma criança mais sozinha, tudo com oque eu me preocupava era subir naquela árvore que tinha dez metros, ou correr tão rápido de bicicleta a ponto de ouvir o vento gritar aos meus ouvidos. Os dias passavam rápidos, e em geral eram felizes. Menos no dia das crianças - que ironia eu lembrar da felicidade justo na data que mais me desiludiu naquela época... e eu falando de época como se tivesse oitenta e três anos. Eu lembro que era quase sempre um dia de expectativa, todos na escola comentava tudo que haviam pedido aos pais, e que provavelmente iriam ganhar, enquanto eu mentia, dizendo que tinha pedido algumas coisas, e que já até tinha algumas delas. Quando em geral eu não pedia por vergonha, vergonha de ter que pedir presente enquanto meus avós não estavam lá com muito dinheiro. Mas mesmo assim, eu vagava pelos lugares onde eu devia brincar, mas sem o mesmo sorriso, eu queria que eles se lembrassem, e me dessem alguma coisa, eu queria que eles me chamassem, e me dessem um grande embrulho vermelho com alguma coisa que eu tanto queria, mas não acontecia. Era um dia de expectativas frustradas, e se hoje eu dou risada disso, é graças à criança que sou.
E, mesmo aos trancos e barrancos, eu ainda sou essa criança! Só mantenho esse meu sorriso, e esse tom sarcástico devido ao moleque que sou. E enquanto todas as outras crianças morreram, e deram lugar à pessoas esquisitas, perdidas e desesperadas. Que não tem rumo, e vivem por aí, bebendo e fumando até caírem pelos cantos. Enquanto todos os corpos infantis jazem pelos cantos, eu continuo a mesma criatura inocente, que luta nesse mar de apatia, usando piadas fora de hora, e uma desobediência espontânea. Tudo que faço é porque sou uma criança, tudo que sou é uma criança. E ainda assim, os cinzas querem me matar, e me dar um espírito novo, um igual ao deles. Mas eu sempre recuso, não quero ser assim. A vida que quero levar vai ser sempre essa brincadeira, essa piada. E eu não quero deixar de contá-las , e não vou, haha.
Só não vejo esse grande mal em ter ainda a criança em mim. Eu ás vezes pergunto pra alguém, de modo bem simples: "você é hoje, diferente de ontem?" ... A resposta é quase a mesma, usando aquele tom arrogante, gabam-se do seu tom de cinza... "Sou alguém mais maduro" , "Amadureci meus pensamentos" , "Não sou mais infantil, sou adulto!". Eu dou risada deles, bando de perdidos, querendo ser de novo criança, e não passa um dia sequer sem que se arrependam de terem se matado em troca de um terno e uma gravata. Não passa um dia em que eles não me odeiem por ter me mantido criança!
Como eu posso manter-me criança pra sempre? Haha, fácil. Ser criança é ter mais maturidade que todos eles juntos. Ser criança é mais difícil do que parece. Eu já não tenho meus carrinhos, e minha bicicleta vermelha foi roubada de mim à tempos. Mas ainda assim, eu sou criança. Poxa... eu ainda brinco, não mais com brinquedos de plástico. Agora meus brinquedos tem cor cinza, e se julgam maduros, maduros demais pra brincar, então quem brinca sou eu. E eu dou nos nervos desses meus brinquedos, e nenhum deles resiste a tentação de me dar uma bronca. Nenhum deles entendem que eu brinco com eles agora, os faço de fantoches, talvez assim, eu tenha sempre brinquedos, pra sempre. Não são os melhores, muitas vezes a carência desses brinquedos me dá no saco. Se eu não brinco com eles, eles correm atrás de mim, dizendo coisas que eu não entendo. Não falo a língua dos adultos. E nunca vou falar.
E, mesmo aos trancos e barrancos, eu ainda sou essa criança! Só mantenho esse meu sorriso, e esse tom sarcástico devido ao moleque que sou. E enquanto todas as outras crianças morreram, e deram lugar à pessoas esquisitas, perdidas e desesperadas. Que não tem rumo, e vivem por aí, bebendo e fumando até caírem pelos cantos. Enquanto todos os corpos infantis jazem pelos cantos, eu continuo a mesma criatura inocente, que luta nesse mar de apatia, usando piadas fora de hora, e uma desobediência espontânea. Tudo que faço é porque sou uma criança, tudo que sou é uma criança. E ainda assim, os cinzas querem me matar, e me dar um espírito novo, um igual ao deles. Mas eu sempre recuso, não quero ser assim. A vida que quero levar vai ser sempre essa brincadeira, essa piada. E eu não quero deixar de contá-las , e não vou, haha.
Só não vejo esse grande mal em ter ainda a criança em mim. Eu ás vezes pergunto pra alguém, de modo bem simples: "você é hoje, diferente de ontem?" ... A resposta é quase a mesma, usando aquele tom arrogante, gabam-se do seu tom de cinza... "Sou alguém mais maduro" , "Amadureci meus pensamentos" , "Não sou mais infantil, sou adulto!". Eu dou risada deles, bando de perdidos, querendo ser de novo criança, e não passa um dia sequer sem que se arrependam de terem se matado em troca de um terno e uma gravata. Não passa um dia em que eles não me odeiem por ter me mantido criança!
Como eu posso manter-me criança pra sempre? Haha, fácil. Ser criança é ter mais maturidade que todos eles juntos. Ser criança é mais difícil do que parece. Eu já não tenho meus carrinhos, e minha bicicleta vermelha foi roubada de mim à tempos. Mas ainda assim, eu sou criança. Poxa... eu ainda brinco, não mais com brinquedos de plástico. Agora meus brinquedos tem cor cinza, e se julgam maduros, maduros demais pra brincar, então quem brinca sou eu. E eu dou nos nervos desses meus brinquedos, e nenhum deles resiste a tentação de me dar uma bronca. Nenhum deles entendem que eu brinco com eles agora, os faço de fantoches, talvez assim, eu tenha sempre brinquedos, pra sempre. Não são os melhores, muitas vezes a carência desses brinquedos me dá no saco. Se eu não brinco com eles, eles correm atrás de mim, dizendo coisas que eu não entendo. Não falo a língua dos adultos. E nunca vou falar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário