segunda-feira, 8 de abril de 2013

O tempo se arrasta e eu não faço parte dele.

É muita babaquice viver querendo fazer alguma coisa, não? Eu me pergunto isso todo dia que acordo cedo pra ir ver o mundo. E sinceramente, todo dia eu tenho uma resposta diferente. Não é questão de fazer ou não alguma coisa, é a questão daquele tédio maldito de não querer fazer nada, e ver o mundo se despedaçando. Não que isso seja em parte alguma minha culpa, não que no fundo eu sinta um sentimento lindo por todos os cachorrinhos e gatinhos e mendigos que vejo na rua, mas não fazer nada é, geralmente, a melhor opção pra quem queria poder fazer alguma coisa.

Não, eles não merecem que seja feita alguma coisa, qualquer coisa, não por eles... mas eu? Talvez - não é certeza- mas talvez eu seja digno de fazer alguma coisa por mim mesmo. Egoísmo? até agora foi a única coisa que sobrou de todos os babacas que falam "temos que mudar as estruturas desse sistema que nos oprime desde que nascemos". A minha experiência com babacas é aumentada como se o espelho fosse uma lente de aumento do mundo todo. E cada dia, mesmo parando de olhar pro espelho, sempre me aparecem novas faces de pessoas "que querem fazer algo".

Esses dias, eu não sei de onde brotou, mas apareceu um sujeito esquisito na minha frente, tinha os cabelos enrolados (crespos mesmo) e eles eram compridos...me lembrou o Slash (um babaca é igual a outro babaca... quase matemática). Só que esse louco aí tava com um livro do Foucault - Microfísicas do Poder - com a capa amarela e amassada...tsc tsc tsc... ele veio falar comigo, estendendo o braço magrelo pra me comprimentar... Só porque viu que eu tinha um livro na mão. Ai, tem vezes que eu queria ter o direito de ter uma estrela da morte, ou a kombi do Scooby-Doo... ai sei lá... eles param de falar comigo. Esse pobre diabo, que estava com uma camiseta do Che Guevara ("ai ai... que clichê isso ai" eu escuto os garotos da USP falando), e puxou assunto sobre meu livro...com a camiseta larga demais tentando esconder a própria magreza e um discurso que - assim de repente - virou marxista. Eu nunca li Foucault, mas um passarinho gordo me contou que ele não curtia muito Marx...Mas ele se mostrou animado com o "debate de metrô", e por algum motivo eu não o mandei calar a boca. Ele disse que não gostava de filosofia, que filosofia era especulação... mas que nunca iria mudar o mundo...
_Ótimo- eu falei pra ele- talvez seja isso mesmo ... mas você quer fazer o que, cara?
_Eu quero que o homem saia dessa luta de classes que é prejudicial à ele.
_Como isso, companheiro?
_Fazendo organizações locais... e blablabla... eu parei de ouvir as asneiras (talvez fosse algo útil, e eu seja o inútil que não saiba ouvir porque "não quer" alguma coisa).
_Que legal tua proposta, mas e depois ?

E ele se animava... se ele não parecesse uma criança de sete anos com um livro que nao sabe ler na mão, eu talvez tivesse perguntado se ele curtia ir na paulista beber com os socialistas de plantão. Durou onze estações, até que ele desceu, e falou "Você tem que tentar fazer alguma coisa... sabe, sair dessa versão única da história do mundo que você tem!"... Tanta garra, tanta força de vontade... se eu der uma guitarra aposto que Sweet Chil o'mine sai sozinha...Guns n Roses é um lixo.

E esse não foi o último dos babacas que pularam na minha frente de sopetão e disseram "Não contavam com a mais-valia!" ... E esse foi a segunda geração...já tem barba, já leu a tradição filosófica toda (queria eu ter feito isso), e depois de tudo isso, se formou na faculdade e agora dá aula de filosofia...É aí que eu penso que devia fazer "alguma coisa"... E que filosofia talvez seja perda de tempo... Ouuu, eu posso pensar que na boca desses caras ela seja perda de tempo. Que na mão desses caras ela vire papel higiênico e sirva pra limpar a bunda de gente que cresceu com uma vidinha mamão com açúcar. Mas como criticar a "burguesia" é muito da moda, eu paro com isso.

Esse babaca-chapolin-evoluído é o cara que apareceu na sala e também viu o mesmo livro na minha mão - o mesmo que o Slash viu. E ele tinha lido aquele livro, e pensou que poderia encaixar citações dele no meio da aula... e que assim nós iríamos virar super-amigos e sair andando, rumo ao por do sol, enquanto Jesse e James - junto com o Miau - estariam decolando na velocidade da luz. E ele foi muito insistente... e depois ainda perguntava ... "Não é mesmo?" e apontava pra mim... e eu só fazia um sinal de "positivo" com a cabeça... e via ele se desdobrando pra poder colocar uma/duas/sete citações a mais no discurso dele... Ele queria fazer alguma coisa... Um por um... e ele iria mudar o mundo... ele ainda tá tentando (e vocês pensando que a barba dele, que tem duas mechas puxadas e enroladas pra baixo, com umas cracas grudadas só servia pra dizer que é filósofo). Ele veio puxar papo no fim da aula... eu queria ir prum canto mais quieto, e ler um pouco daquele livro (toda vez que eu abria ele aparecia algum filósofo...que nem lâmpada mágica). Mas ele começou tranquilo... querendo fazer o papo engrenar, eu devia dar uma chance? Será que se o papo, quando engrenasse, me traria alguma coisa produtiva? Depois de um minuto ele encaixou mais uma citação do livro... eu parei de ouvir daí.... me disseram que ele ficou vinte minutos do meu lado...eu nem reparei, que pena!

Ok, mas em que isso ajuda numa divagação? Em tudo (exatamente porque não ajuda em nada). Esse é o nada do mundo que quer fazer alguma coisa, que pensa que pode mudar o mundo... e são esses caras que me fazem olhar pro lado, pro outro, atravessar a rua, pegar a galinha e voltar, e nunca tentar fazer nada de bom pro mundo - a não ser que ter algum efeito positivo pro mundo seja efeito colateral de ter tentado fazer alguma coisa pra mim mesmo (eu tenho janta - raridade - e um cara não tem que tirar tripa de galinha dos pneus, entende?).

E mesmo assim, eu vejo que isso não é certo... eu nem devia estar aqui, eu não me encaixo (ou então me encaixei tão bem nesse quebra cabeça que fica apertado demais. Mas não me parece algo útil ver os caras "fazendo alguma revolução" na Av. Paulista, e nem ter vontade de dizer pra eles que é perda de tempo. Talvez seja essa a coisa que eu pudesse fazer, não? Contar pros caras que eles tão perdendo tempo. E que eles deviam pegar uma cadeira de praia, um pouco de paçoca, e sentar na calçada, esperando a expansão do Sol engolir nosso planeta...Mas eles não vão.

...E sabe porque? É que eu não te contei, eu não sou o egoísta da história. Eu sou o cara que já sacou que não pode fazer nada, e que tentar mudar o mundo, e fazer ele convergir para algum ponto inicial é egoísmo. Sentar na cadeira de praia que tem um buraco na bunda, e comer canja de galinha é muito menos egoísta que sair dizendo que temos que "fazer pólos regionais que tenham economia auto-sustentável"...Quem faz isso é: ou egoísta (estúpido), ou vive de mau-caratismo... e por saber que fazer isso é puro egoísmo, faz com mais vontade ainda.

E eu olho pro relógio e descubro que nem escrever passa o tempo. O tempo começa a se arrastar cada vez mais, e por isso mesmo eu começo a gostar cada vez mais de ficar olhando da varanda o mundo acabar. Acabo amando aquela sala na qual sou enclausurado - com todos os macaquinhos fazendo palhaçada e rindo das fórmulas que dizem que A =  v2-v1 / t2-t1 ....eles não entendem essa coisa simples, e ainda assim querem fazer alguma coisa... e quanto mais eu olho, menos o tempo passa, e mais eu aprendo a sufocar meu desespero com um sorriso e uma ironia que sempre sai em forma de verso....Mas talvez seja bacaninha da minha parte eu te contar que o tempo passa nesse slow-motion... e eu assisto de fora. Eu não fico em slow-motion... nem acelero, eu só assisto. Talvez eles façam "alguma coisa", mas eu? Eu não vou fazer nada, eles nem merecem que eu diga que eles estão perdendo tempo. Nem merecem que eu assista... mas eu vivo de tédio...porque beber eu não quero, nem posso, e nem consigo....

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